História e Desenvolvimento.
Na primeira metade da década de 1930, o plano de reequipamento do governo nacional-socialista alemão encontrava-se em plena implementação, abrangendo não apenas a modernização de armamentos, mas também o desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares. No campo de batalha, essas inovações seriam empregadas de forma sincronizada, integrando veículos, armamentos e carros de combate de última geração. Essa iniciativa culminaria na formulação do conceito da "Guerra Relâmpago" (Blitzkrieg), uma tática militar que enfatizava o emprego de forças altamente concentradas e de rápida mobilidade. A estratégia envolvia formações blindadas e unidades de infantaria motorizada ou mecanizada, operando em conjunto com artilharia, assalto aéreo e apoio aéreo aproximado. O objetivo principal era romper as linhas defensivas inimigas, desestabilizar suas forças e comprometer sua capacidade de resposta diante de uma frente de batalha em constante mutação, conduzindo-as, assim, a uma derrota rápida e decisiva. Um dos pilares fundamentais dessa tática baseava-se no desenvolvimento de novos carros de combate que, ao entrarem em ação a partir de setembro de 1939, demonstraram superioridade em diversos aspectos em relação a seus equivalentes britânicos, soviéticos, norte-americanos e franceses. Apesar das restrições impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes (assinado ao término da Primeira Guerra Mundial, em 1918), era evidente que o regime nazista avançava rapidamente em seu programa de rearmamento — um fato que não passou despercebido pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Relatórios elaborados por esses serviços detalhavam o crescente potencial das forças armadas alemãs, incluindo projeções de aumento do efetivo militar e da produção de equipamentos. Particular atenção foi dada aos novos modelos de carros de combate Panzer I e II, que, em muitos aspectos, superavam os modelos leves M-1 e M-2, então em serviço nas unidades de cavalaria blindada do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army). Diante desse cenário, em abril de 1939 foi iniciado um programa de estudos com o objetivo de conceber uma nova geração de carros de combate e veículos blindados capazes de rivalizar com os modelos alemães em um eventual conflito. Essa iniciativa foi conduzida pelo Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia, e resultou no desenvolvimento de blindados sobre esteiras e sobre rodas. Os primeiros frutos desse esforço materializaram-se nos projetos dos carros de combate médios M-3 Lee e M-4 Sherman. No campo de batalha, essas viaturas deveriam ser complementadas por um novo modelo de veículo blindado antitanque leve, destinado a substituir o já obsoleto GMC M-6 Gun Motor Carriage — um blindado sobre rodas derivado do utilitário General Motors WC-5, com tração 4x4. Os parâmetros estabelecidos para o desenvolvimento desse veículo especificavam um blindado leve e ágil, dotado de tração integral do tipo 6x6, equipado com um canhão M6 de 37 mm (o mesmo utilizado nos carros de combate leves M-3 Stuart), montado em uma torre giratória, além de duas metralhadoras Browning, de calibres .50 e .30, para autodefesa.
Com essas definições, foi deflagrada uma concorrência visando à aquisição de um lote substancial desses blindados. Para tal, constituiu-se uma comissão técnica no Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD – Department of Defense), responsável por receber e avaliar as propostas técnicas e comerciais de possíveis fornecedores. As análises iniciais resultaram em uma lista final (shortlist) com três empresas concorrentes: a Studebaker Automotive Company, com seu modelo T-21; a Ford Motor Company, com o T-22; e, por fim, a Chrysler Automotive Company, com o T-23. Para viabilizar o desenvolvimento dos projetos, foram disponibilizadas linhas de financiamento governamental para a construção dos protótipos, concluídos entre os meses de outubro e novembro de 1941. Em seguida, iniciou-se um rigoroso programa de testes no campo de provas de Aberdeen Proving Ground, em Maryland, prolongando-se até março do ano seguinte. Durante esse processo, o modelo T-22, da Ford, destacou-se nas avaliações comparativas em relação aos demais concorrentes. Embora tenha sido declarado vencedor da concorrência, o T-22 apresentou algumas deficiências que exigiam correções e melhorias no projeto. Essas modificações foram implementadas pela equipe de engenharia da montadora, resultando na versão inicial de produção, denominada T-22E2. No entanto, nesse momento, já era evidente que o canhão de 37 mm não se mostrava mais eficaz contra as blindagens frontais e laterais dos novos carros de combate alemães e italianos, que estavam equipados com armamentos de maior calibre. Assim, em um hipotético confronto contra forças do Eixo, o T-22 tornar-se-ia um alvo vulnerável, especialmente porque sua blindagem fora projetada para resistir apenas ao impacto de armamentos leves, limitando severamente sua capacidade de sobrevivência no campo de batalha. Apesar dessa limitação crítica, o comando do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) optou por seguir com a produção em larga escala do veículo, decisão fortemente influenciada pela intensificação das tensões políticas na Europa e no Pacífico. A necessidade urgente de implementação de um amplo programa de reequipamento militar levou à redefinição do papel do T-22E2, que passou a ser destinado especificamente a missões de reconhecimento no campo de batalha. Para atender a essa nova função, o veículo recebeu uma série de modificações estruturais e operacionais. Com os ajustes técnicos definidos, iniciou-se a fase de negociação comercial para sua produção em série. No entanto, esse processo enfrentou graves entraves burocráticos, relacionados à formalização do contrato de fabricação, o que atrasou sua entrada em serviço. Esses entraves negociais resultaram em um significativo atraso no cronograma original de produção, com as primeiras unidades sendo concluídas apenas em meados de março de 1943.
Assim que foram finalizadas, passaram a ser distribuídas às unidades operacionais, recebendo, nesse momento, a designação militar de M-8. O casco do veículo era composto predominantemente por chapas soldadas, embora alguns painéis externos fossem rebitados à estrutura. Suas seis rodas eram protegidas por escudos laterais removíveis, enquanto a seção traseira possuía uma estrutura alada, permitindo que fossem dobradas e equipadas com correntes para pneus em condições de neve. O M-8 era propulsionado por um motor Hercules Model JXD, um seis cilindros em linha a gasolina, capaz de gerar 110 hp de potência. Esse conjunto mecânico proporcionava ao blindado uma velocidade média de 48 km/h (30 mph) em terrenos irregulares e 90 km/h (56 mph) em estradas pavimentadas. O consumo médio de combustível era de aproximadamente 7,5 milhas por galão (mpg), e seus tanques tinham capacidade para 59 galões, conferindo-lhe um alcance operacional de 640 km (400 milhas). A posição do motorista estava localizada à esquerda, enquanto o operador de rádio se sentava à direita. Ambos eram acomodados em um compartimento saliente, protegido por painéis blindados dobráveis de duas peças e visores estreitos. A torre do veículo, aberta na parte superior, abrigava o comandante e o artilheiro. Apesar da ausência de um teto fechado, era possível utilizar persianas e tampas de escotilhas para proteção adicional, além de pequenos periscópios para garantir visão periférica. O armamento principal do M-8 era composto por um canhão M6 de 37 mm, apontado por meio de uma mira telescópica M70D. O veículo transportava 80 cartuchos para o canhão, porém, o espaço interno permitia armazenar apenas 16 projéteis prontos para uso imediato. Para autodefesa, era equipado com duas metralhadoras, abastecidas com 1.500 cartuchos, além de quatro lançadores de fumaça M1 e M2. Opcionalmente, podia transportar até seis minas terrestres (antitanque ou explosivas de alto poder destrutivo - HE), montadas externamente, além de carabinas M1 para uso da tripulação. Devido ao espaço interno reduzido, diversos ganchos e suportes foram instalados tanto na torre quanto no casco, permitindo o armazenamento de equipamentos essenciais. Como resultado, a maioria dos itens pessoais da tripulação foi montada externamente sobre os para-lamas dianteiros e traseiros. Entre os acessórios transportados externamente estavam mochilas, ferramentas, cabos e, posteriormente, sacos de areia, adicionados como medida extra de proteção. O M-8 também foi equipado com um avançado sistema de comunicação, essencial para o cumprimento de suas missões de reconhecimento. Inicialmente, utilizava o rádio SCR-506, posteriormente substituído pelos modelos SCR-510, SCR-608 e SCR-610, todos de longo alcance. O sistema de rádio era operado internamente pelo comandante do veículo, permitindo contato direto com o Quartel-General, com unidades avançadas de comando na linha de frente ou até mesmo com forças atuando em teatros de operações mais distantes.

Em operação, o M-8 foi incumbido de proporcionar às divisões de infantaria e blindadas a capacidade de reconhecimento avançado no campo de batalha, atuando como os "olhos e ouvidos" do Exército dos Estados Unidos (US Army). Nessa função, a velocidade e a agilidade na linha de frente foram priorizadas em detrimento do poder de fogo e da blindagem. A missão da cavalaria blindada consistia em estabelecer contato no momento mais propício, visando atacar, conquistar e manter as posições estratégicas. Nesse contexto, as unidades de reconhecimento equipadas com o M-8 tinham a responsabilidade de identificar e estabelecer contato antecipado com contingentes hostis, relatando sua força, composição, disposição e movimentos. Essas informações permitiam que o corpo principal aliado dispusesse de tempo hábil para a elaboração de estratégias e táticas para o enfrentamento futuro. Durante operações de retirada, as unidades de cavalaria blindada equipadas com o Ford M-8 foram encarregadas de estabelecer uma força de triagem junto às unidades principais, auxiliando na organização e execução do processo. Com o aumento da produção, um grande número desses blindados foi distribuído às unidades operacionais nos teatros de operações do Pacífico e na Inglaterra, onde foram armazenados em centros logísticos para seu futuro emprego nas operações de reconquista da Europa. O batismo de fogo do M-8 ocorreu no início de julho de 1943, durante a invasão da Sicília pelos Aliados, na operação denominada "Operação Husky". Após os desembarques iniciais e a subsequente consolidação da cabeça de ponte, dezenas de unidades do M-8 foram empregadas em missões de reconhecimento. Nessa campanha, o veículo demonstrou grande eficácia, não apenas devido à sua agilidade e velocidade, mas também por estar equipado com um dos mais avançados sistemas de rádio de longo alcance da época. Essa superioridade tecnológica permitia que as unidades de reconhecimento mantivessem um alto grau de surpresa e reduzissem significativamente a possibilidade de detecção pelas forças inimigas. Outro fator determinante para seu sucesso estava na concepção do seu conjunto motriz, cujos sistemas e componentes mecânicos foram projetados para operar de maneira silenciosa. Como resultado, as unidades de reconhecimento do Terceiro Exército dos Estados Unidos receberam dos alemães o apelido de "Fantasmas de Patton", em referência ao General George S. Patton. O M-8 esteve presente nas principais batalhas do conflito, embora sua blindagem relativamente leve o tornasse vulnerável a disparos de veículos blindados inimigos, como o Sd.Kfz. 234 Puma, além de carros de combate e armas antitanque alemãs. No teatro de operações do Pacífico, o veículo assumiu uma função distinta: a de destruidor de tanques. Isso se deve ao fato de que a maioria dos carros de combate japoneses possuía blindagem leve, tornando-os vulneráveis ao canhão M6 de 37 mm. Milhares de unidades desses blindados foram fornecidas a nações aliadas por meio do programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), beneficiando principalmente as Forças Francesas Livres, bem como o Reino Unido, Austrália, Canadá e Brasil. O apelido "Greyhound" foi atribuído por seus operadores no Exército Real Britânico (Royal Army), embora raramente, ou nunca, tenha sido utilizado pelas tropas norte-americanas. Durante sua utilização na Europa, tornou-se necessária a adoção de kits de blindagem adicional no assoalho do veículo, a fim de minimizar as perdas causadas por minas terrestres alemãs e italianas. No entanto, mesmo com essa modificação, a operação do M-8 em estradas tornou-se menos recomendada, restringindo seu uso a terrenos montanhosos, áreas de lama profunda e regiões cobertas de neve.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.
Nos termos do referido acordo de assistência militar, o Brasil iniciou a recepção de uma significativa quantidade de material bélico, incluindo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, navios e armamentos, sendo o Exército Brasileiro o principal beneficiário desse investimento. No que tange aos veículos blindados, a incorporação de novos modelos teve início no final de 1941, com a chegada dos carros de combate leves M-3 Stuart e médios M-3 Lee, dos veículos de transporte de tropas M-3A1 White Scout Car e dos primeiros carros de combate e reconhecimento sobre rodas 6x6, o Ford T-17 Deerhound, recebidos em meados de 1943. Subsequentemente, conforme previsto, o Brasil ampliou sua participação no esforço de guerra ao lado dos Aliados, formalizando esse compromisso em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada no boletim reservado de 13 de agosto do mesmo ano, a qual estabeleceu a estrutura da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A missão do Exército Brasileiro consistia em engajar-se nas operações de combate no teatro europeu. Para o comando da FEB, foi designado o General-de-Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, que lideraria uma força composta por três Regimentos de Infantaria (6º Regimento de Infantaria de Caçapava, 1º Regimento de Infantaria e 11º Regimento de Infantaria), quatro grupos de artilharia (três equipados com peças de 105 mm e um com peças de 155 mm), uma esquadrilha de aviação para missões de ligação e observação (pertencente à Força Aérea Brasileira), um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de transmissões (comunicações). A estruturação desse contingente seguiu os padrões das unidades operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army), exigindo a formação de uma unidade de reconhecimento mecanizado. Para atender a essa necessidade, o 2º Regimento Motomecanizado, sediado na então capital federal, Rio de Janeiro, recebeu a incumbência de preparar seus esquadrões para integrarem a Campanha da Itália. Em fevereiro de 1944, foi designado o 3º Esquadrão de Reconhecimento e Descoberta, que, após obter autonomia administrativa, foi integrado à 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE) e renomeado como 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (1º Esqd Rec Mec). Este grupamento foi equipado com uma variada gama de viaturas militares, sendo sua principal missão a realização de reconhecimento avançado do campo de batalha, fornecendo informações essenciais e apoio às unidades de infantaria brasileiras no front de combate italiano. Cada pelotão de reconhecimento era composto por três patrulhas, cada uma delas equipada com um blindado M-8 sobre rodas 6x6, duas viaturas Jeep ¼ Ton, além de outros veículos de apoio, como o meia-lagarta M-3A1, reboques diversos e viaturas de transporte 2 Ton 6x6, totalizando um efetivo de quarenta e sete viaturas. Conforme o cronograma estabelecido, o primeiro contingente brasileiro desembarcou na cidade de Nápoles, na Itália, em 16 de julho de 1944, marcando o início efetivo da participação da FEB no teatro de operações europeu.

Durante o restante da campanha, esses blindados desempenharam papéis cruciais nas principais batalhas e momentos de glória da Força Expedicionária Brasileira (FEB), incluindo a vitória em Monte Castelo, a rendição da 148ª Divisão Alemã e a rendição dos remanescentes da Divisão Monte Rosa italiana. No rompimento da Linha Gótica, em fevereiro de 1945, uma das últimas defesas organizadas do Exército Alemão na Itália, os carros blindados sobre rodas também desempenharam um papel significativo. A Batalha de Montese teve início em 14 de abril de 1945 e encerrou-se ao final do dia 15, integrando a ofensiva de primavera planejada pelo comando aliado na Itália. Durante essa operação, os Ford M-8 tiveram como missão apoiar o avanço do 11º Regimento de Infantaria na tomada da cidade e na neutralização das posições de defesa alemãs. O combate urbano representou um desafio inédito para as tropas brasileiras, pois o Exército Brasileiro nunca havia enfrentado tal cenário em sua história, ainda mais no contexto de uma guerra moderna. Para melhorar a mobilidade entre os escombros das ruas da cidade, alguns M-8 operaram sem os paralamas. Com o avanço das forças brasileiras no território italiano, o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado continuou suas missões de reconhecimento, agora enfrentando menor resistência, uma vez que tanto as tropas alemãs quanto as italianas encontravam-se em debandada. A atuação brasileira em Montese teve grande repercussão junto ao comando aliado. Alguns relatos indicam que o General Mark Clark teria afirmado: "De todas as tropas sob meu comando, apenas os brasileiros merecem meus cumprimentos. O soldado brasileiro está apto a ensinar a qualquer exército do mundo como conquistar uma cidade". Ainda, o 1º Esquadrão de Reconhecimento e seus Ford M-8 estiveram presentes no último e um dos mais memoráveis momentos do Exército Brasileiro na campanha italiana. Em 29 de abril de 1945, após mais de 24 horas de negociações, o General Otto Fretter-Pico formalizou a rendição da 148ª Divisão Alemã, bem como dos remanescentes da Divisão Monte Rosa italiana. Em seguida, esses blindados foram os primeiros a estabelecer a ligação entre a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE) e as tropas aliadas francesas na cidade de Susa, região do Piemonte, província de Turim. As particularidades do uso de veículos militares pela FEB são extensas, especialmente devido à ausência de padronização na aplicação de emblemas, matrículas, distintivos e nomes, apesar da referência aos manuais norte-americanos. Durante o conflito, alguns desses veículos foram personalizados por seus tripulantes, recebendo nomes como "Vira Mundo", "Leão do Norte", "Pérola", "Andrade Neves" e "Viva Brasil". Após a rendição alemã, em 8 de maio de 1945, o contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi desmobilizado, iniciando-se o processo de repatriação das tropas. Assim, os Ford M-8 Greyhound, juntamente com os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos, foram entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma.
Nesta localidade, os veículos, equipamentos e armamentos em melhor estado de conservação foram armazenados e posteriormente despachados ao Brasil por via naval, incluindo os treze blindados Ford M-8 remanescentes. Vale destacar que, ainda no âmbito do programa de assistência militar firmado, vinte unidades adicionais do Ford M-8 foram recebidas no Brasil no início de 1945. Essa aquisição permitiu ao Exército Brasileiro expandir suas capacidades operacionais, com esses blindados sendo integrados às unidades de reconhecimento mecanizado localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, enquanto os Ford T-17 Deerhound permaneceram concentrados na região Sul do país. Nos anos seguintes, os Ford M-8 desempenharam um papel fundamental na construção do embrião da cavalaria mecanizada no Brasil, viabilizando a transição da doutrina hipomóvel para a mecanizada. Essa evolução contribuiu significativamente para consolidar o Brasil como uma potência militar regional na América do Sul, tornando-o a principal força de cavalaria blindada e permitindo-lhe projetar poder em sua fronteira sul. Nesse período, o Exército Brasileiro recebeu lotes adicionais de material militar fornecidos em condições vantajosas pelo Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP). Como parte desse acordo, foram cedidas mais de uma centena de viaturas blindadas Ford M-8 e M-20 (versão de comando), anteriormente pertencentes ao Exército dos Estados Unidos (US Army). Essas viaturas haviam sido armazenadas no final da década de 1940 e posteriormente classificadas como excedente militar. Dessa forma, a frota brasileira foi expandida para um total de cento e cinquenta carros, reforçando a capacidade operacional dos novos Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado ao longo dos anos seguintes. Agora designadas como VBR M-8 Greyhound (Viatura Blindada sobre Rodas), essas viaturas passaram a operar em conjunto com os carros de combate M-3 e M-3A1 Stuart, bem como com os Sherman M-4, M-4A1 e M-4 Composite Hull. Apesar de sua significativa contribuição para a força mecanizada, a partir do início da década de 1960, a frota já envelhecida passou a apresentar índices preocupantes de disponibilidade, principalmente devido à dificuldade na obtenção de peças de reposição para os antigos motores a gasolina Hercules JXD de seis cilindros e 100 hp. Esse cenário gerou grande preocupação, pois as projeções indicavam um colapso iminente dessa frota essencial. No entanto, nesse mesmo período, a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2) iniciou estudos voltados à implementação de processos de remotorização e modernização de uma ampla gama de veículos militares de origem norte-americana. Assim, deu-se início a um projeto elaborado que resultaria em um programa de modernização e remotorizção para os Ford M-8 e M-20.

Em Escala.
Para representarmos o Ford M-8 Greyhound FEB 510-6 "Vira Mundo", pertencente ao 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (1º Esqd Rec Mec) da Força Expedicionária Brasileira , fizemos uso do excelente kit da Italeri na escala 1/35. Para se representar o modelo empregado pelo Exército Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial, não é necessário proceder nenhuma modificação, podendo se montar o modelo diretamente da caixa. Empregamos decais fabricados pela Decal & Books fornecidos juntamente com o livro "FEB na Segunda Guerra Mundial " de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado em todos os veículos usados pela Força Expedicionária Brasileira – FEB durante a Segunda Guerra Mundial. Deve-se levar em conta ainda, uma grande diversidade de posicionamento das marcações nacionais e numerais de série, com este fato sendo motivado pela ausência de normas de identificação visual naquele momento. Já no período pós-guerra operação no Brasil os Ford M-8 Greyhound seriam padronizados no esquema de pintura e marcações empregadas nos demais veículos blindados em uso no Exército Brasileiro
Bibliografia :
- Blindados no Brasil - Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos
- O 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da FEB - AMAM por Danilo Tenório Quintino
- Origem do Conceito 6X6 do Veículo Blindado no Exército Brasileiro - http://www.funceb.org.br/images/revista/20_1n8q.pdf